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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Chega ao Brasil a 'Bíblia' do design gráfico

Cristãos carregam a Bíblia nas mãos. Muçulmanos, o Alcorão. Já os designers brasileiros poderão ser vistos, daqui para a frente, com um outro livro que, embora não seja sagrado, é tido como tal por ilustradores e artistas gráficos de todo o mundo, "História do Design Gráfico" (Cosac Naify, 720 págs., tradução de Cid Knipel, revisão técnica de André Stolarski, R$ 198). Referência fundamental para o estudo da evolução da linguagem gráfica, o livro do historiador e designer americano Philp B. Meggs (1942-2002) teve sua primeira edição americana em 1983.

Revisada e atualizada dá dois anos pelo também historiador americano Alston W. Purvis, ela levou dois anos sendo redesenhada para o leitor brasileiro pela designer gráfica Elaine Ramos, diretora de arte da editora Cosac Naify. Seu esforço missionário valeu a pena: a Bíblia do Design incorporou infográficos cronológico-temáticos e uma exaustiva revisão das 1.300 ilustrações. Elas cobrem desde a primeira pintura rupestre da caverna de Lascaux até os provocativos cartazes do mexicano Alejandro Magallanes, que, aos 38 anos, conquistou o posto de herdeiro dos designers poloneses.

Como se sabe, o cartaz foi o grande orgulho da Polônia quando o país, então sob regime comunista, começou a receber atenção internacional nos anos 1950, consagrando artistas como Tadeusz Trepkowski (1914-1956), Jan Lenica (1928-2001) e Roman Cieslewicz (1930-1996), autor do cartaz do filme "Um Corpo Que Cai" (Vertigo, de Hitchcock), desenhado em 1963 - uma caveira que alude ao título do filme, combinada com uma impressão digital. Merecidamente, eles ganham um espaço generoso no livro de Meggs, dividido em cinco partes, cada uma delas dedicada a um período histórico, da invenção da escrita à era digital de microprocessadores, que transformaram a indústria da comunicação, passando pelas mudanças que o design gráfico sofreu com a criação da escola de vanguarda alemã de arquitetura e design Bauhaus (1919-1933 ).

Após o fim da 1ª Guerra, a narrativa tradicional de cartazes foi sendo substituída por novas ideias visuais que privilegiavam o conceito. Por volta de 1914, os cartazes publicitários contavam necessariamente uma história, como o desenhado naquele ano pelo alemão Ludwig Hohlwein (1874-1949) para levantar fundos para a Cruz Vermelha, em benefício dos feridos de guerra. O cartaz mostra um soldado com um dos braços na tipoia diante de uma cruz vermelha sugerida como uma suprematista cruz de Maliévitch. Essas referências seriam mais tarde expurgadas na Alemanha de Hitler, quando Hohlwein, aliciado pelos nazistas, ajudou a consolidar a propaganda visual que mudou o cenário político alemão. O artista, segundo Meggs, evoluiu rumo ao estilo militarista, tornando suas formas pesadas e os contrastes tonais mais tenebrosos ainda.

A promíscua relação entre arte e política é dissecada no livro. Ao analisar como a Rússia, já arrasada pela catástrofe da 1ª Guerra, passou pelo trauma de uma revolução, Meggs lembra que os artistas gráficos, na tentativa de traduzir visualmente suas crenças futuristas, incorporaram a abstração geométrica, rejeitando tanto a figuração como a função utilitária em troca da expressão. Meggs destaca especialmente a composição gráfica suprematista de Maliévitch e o uso da figura geométrica pelo pintor, arquiteto, designer e fotógrafo El Lissitzki. Em 1919, Lissitzki criou o emblema do exército bolchevique, uma cunha vermelha que talha as "forças brancas" de Kerenski, representadas por um círculo branco. Esse confronto abstrato duraria pouco. O governo revolucionário bancou os construtivistas até Stalin (1878-1953), que fez retroceder a arte a um realismo rasteiro e populista. Artistas gráficos de tendência construtivista ou abstrata caíram no ostracismo e na pobreza.

Curiosamente, na Polônia comunista, os artistas conseguiram resistir à intervenção estatal - em 1980, em plena crise, o logotipo concebido por Jerzy Janiszewski para o sindicato Solidariedade tornou-se símbolo contra a opressão. Meggs mostra o uso do cartaz tanto como arma política como peça de propaganda. Ele vira ouro nas mãos de artistas como o norte-americano Milton Glaser. Nos anos 1960, ele dominou um grupo de designers e estabeleceu os mandamentos da arte gráfica pop em Nova York, após o reinado de Saul Bass (1920-1996) na Califórnia dos anos 1950 - ele foi o melhor criador de cartazes de cinema e créditos iniciais de filmes como O Homem do Braço de Ouro (1955), reproduzido ao lado. Glaser criou a campanha "I Love New York", que conquistou o mundo com um coração e as letras INY. Foi o último grito nacionalista antes da queda das torres gêmeas e da globalização, que anuncia uma incômoda retromania nas artes gráficas.(AE)


FONTE: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=42&id=216535

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